Myself !


Outrora em partilha de dois olhares que se compreendem e se protegem, escrevi uma história ... coloquei-me num mundo que para mim criara procurando entender o significado que dou a vida através da caracterização e exploração de itens simbolicos ... envolvi-me num jogo de faz de conta, entre gargalhadas e sonhos que encobriram naquela noite o momento ... em teorias de psicanalise, descubri-me mais um pouco contigo ... sorrimos juntas no reconhecimento ... partilho hoje minha história para quem a quiser ouvir e ineterpretar ... porque faz parte de mim, porque é um momento a recordar.

" Caminhado no deserto ...

Encontro uma caixa ... tamanho médio, cor castanha corroida pelo sol torrido que me queima a pele ... olho, penso, levo-a comigo ... pode ser útil na minha caminhada, para guardar outras coisas, para me proteger durante as tempestades de areia, ou simplesmente para me acompanhar nesta viagem solitária.

Encontro uma caneca de metal a cintilar sob a areia, pego nela, está quente ... no seu interior o vazio e nada fresco para beber ... solto o cinto, prendo-a a mim ... vou levá-la comigo.

Espetada numa árvore, encontro uma espada, uma adaga de palmo e meio que atravessa o corpo desta arvore aqui perdida no deserto ... solta-se ceiva que escorre pela lâmina e a faz parecer parte de si.

Perante umas escadas que se atravessam no meu caminho, lembro-me da árvore por que passei, teria sido útil para a trepar, teria dado geito para alcançar o topo e colher o fruto mais maduro ... olho para trás, apenas se avista no horizonte um brilho desvanecido ... era a adaga que nela deixara espetada, estava demasiado longe ... não iria voltar para trás ... olho novamente a escada, coloco-as sobre as costas ... são pesadas e magoam-me a pele, mas nem que pela esperança de encontrar outra árvore para escalar, é um fardo que estou disposta a carregar.

Páro estupefacta, olho em frente e apresenta-se-me uma montanha de imensos tamanhos ... solto uma lágrima, prevejo o esforço que me vai custar ultrapassa-la com as costas doridas e sem água para beber.

Na sua encosta deparo-me com um cavalo castanho, robusto ... vejo nele a minha salvação para ultrapassar a montanha que se me apresenta ... contudo penso, após tantos passos na areia e sozinha comigo mesma, bastava-me a alegria de uma companhia para ganhar forças para proceguir ... chego-me perto, acaricio-o, seguro-o pela crina e convido-o a partilhar comigo esta viagem, lado a lado.

Como que por milagre, encontro uma árvore, grande esta, replecta de folhagem e com o abençoado fruto no seu topo ... sorrio e encosto as escadas ao seu tronco largo ... trepo em busca de saciar a minha fome ... seguro o fruto com ambas as mãos como que algo precioso ... trico-o e sinto o seu sumo a passar-me pela garganta seca ... parto-o ao meio e partilho-o ... sigo viagem deixando para trás a árvore que me saciara e a escada que fazia agora parte dela.

Chego ao fim, penso, apresenta-se um muro que se perde de vista e que me diz ser impossivel de contornar ... olho para ele e para o meu cavalo ... sinto que sou capaz de o trepar e seguir viagem, mas não consigo deixar o companheiro que comigo caminhou até aqui ... faço-lhe uma festa e volto para trás, penso e digo: vamos tentar sair pela outra porta. "

Pouco sentido fazem as palavras e os objectos até a partilha ser concluida fez entender ... seria somente uma pobre história se não lhe atribuisses o real significado das coisas ... entendi então que cada objecto e cada imagem que criara no papel simbolizara pedaço de mim ... cada iten desta caminhada pelo deserto me diria no final qual a minha visão sobre mim propria e sobre o que me rodeia.

(Sorrimos juntas)

Porque não faria sentido partilhar somente a história nos moldes que se apresenta ... resta-me divulgar o mistério que se esconde sob cada pedaço deste jogo de faz de conta ... compreenda-se então que:

Caixa = EU
Caneca = Mãe
Espada = Pai
Escada = Amigos
Montanha = Vida
Cavalo = Amor
Arvore = Problemas
Muro = Morte

Curioso escrever sobre mim mesmo quando não o intensiono ... abrir as portas de um espirito que inconscientemente se desvenda numa folha de papel ... agradeço-te o momento ... agradeço-te a partilha!


* Para bom entendedor ... meia palavra bastaria! *


N.P.

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